Indiscutivelmente a classe burguesa promoveu enormes mudanças no modo de viver que “contaminaram” todo o planeta. Uma das mais visíveis transformações foi a subordinação do campo em relação às cidades, por conta da instalação de indústrias cada vez maiores nos centros urbanos, cuja produção não é mais pensada para os mercados local e regional, mas sim global, requerendo para isso matérias primas de qualquer ponto do planeta. Eis a expansão comercial, a busca incessante por lucros, a instalação de filiais em outros pontos da Terra, a globalização.
O efeito imediato foi a migração em massa de milhares de pessoas das regiões rurais para as urbanas, atraídas por possíveis oportunidades de emprego, embora muitas das quais foram forçadas a realizarem esse tipo de deslocamento com o intuito burguês de formar um exército industrial ativo e de reserva. A abundância de mão de obra é desejada pelos burgueses, já que assim conseguem lucros ainda maiores oriundos de salários cada vez mais reduzidos em função da relação trabalhadores/vaga.
Foi justamente o fato de serem as sedes dos conglomerados que proporcionou às cidades um poder de barganha imenso sobre o interior, a ponto de determinar e ser determinante sobre a produção rural e também fornecer produtos para o campo, tais como maquinário, agrotóxicos, fertilizantes etc. Essa ciranda resultou em um crescimento cada vez maior às cidades, atraindo mais contingente populacional, acentuando as desigualdades sociais.
A burguesia conseguiu impor seu perverso sistema de pobreza e exclusão à grande parcela da população, utilizando-se de estratégias no mínimo condenáveis. Uma delas é a ideologia, talvez a pior esquizofrenia do planeta, pois ela existe justamente para negar sua própria existência, isto é, para mascarar a realidade, fazendo com que as pessoas percam a noção do que é verdadeiro e falso, tornando-se alienadas. Dessa forma, os burgueses conseguem ofuscar a dialética, motor da transformação social.
A ideologia é reforçada pelas instituições sociais, desde a religião (ópio do povo), passando pelas artes, mídia, política, entre outras, até chegar à família. Os construtores da ideologia, que começa a partir da base estrutural da sociedade - a economia- passando em seguida para as superestruturas, é o que Marx vai chamar de falsos intelectuais.
Entretanto, a burguesia não seria o que é se não fosse a posse dos meios de produção, um dos pilares de capitalismo. É essa posse que faz com que o proletariado tenha que se submeter às regras burguesas, vendendo sua força de trabalho em troca de um salário, que em tese, deveria dar para sustentar a si e a sua família durante o período entre salários. Não obstante, a parcela paga é menor do que lucro obtido em função do trabalho dos funcionários, estabelecendo o que se denomina mais valia. A coisa chegou a tal ponto, que o trabalhador não faz idéia nem do quanto produz de riqueza ao seu empregador. Se formos mais além, constataremos que parcelas consideráveis não sabe o que ocorre dentro da fábrica além daquilo executado todo santo dia igualzinho e alguns não devem nem saber o que a fábrica em que trabalha produz. No final das contas, todo o salário que o burguês paga ao proletariado acaba retornando aos próprios burgueses pelos outros setores da burguesia, num regime de concentração inesgotável.
A classe burguesa conseguiu criar no inconsciente da população o fetiche. As pessoas compram não só porque precisam, mas sim porque vai lhes dar prazer e, porque não, status. O indivíduo pode gastar todas as suas economias de meses, pode estar endividado, pode não ter dinheiro sequer para manter uma alimentação digna, no entanto ele compra o tênis importado da moda, o celular de última geração, monitores LCD, o carro do ano. Tudo pelo prazer de poder mostrar ao próximo o seu poder de compra, mostrando que ele tem mais dinheiro do que aparenta, obtendo o respeito dos vizinhos apenas pelo que parece ser.
As pessoas transformaram-se em vitrines e placas publicitárias ambulantes das marcas, exibindo seus nomes e símbolos em tudo o que é comprado. Aliás, o status vem principalmente pela etiqueta que o produto traz consigo, mais até do que pelo puro gosto pessoal em usá-lo.
Como bem salienta Marx em O manifesto do partido comunista, “a burguesia como classe revolucionária, ao tomar o poder das monarquias, não eliminou os antagonismos entre as classes, apenas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta”. As relações sociais de afeto, e mesmo as familiares, foram substituídas por relações comerciais, nas quais somente o dinheiro é importante. Tudo na sociedade moderna parece funcionar com o objetivo de promover a acumulação de capitais a uma só classe, desequilibrando a balança há muito tempo tombada para o lado da burguesia.
(Fonte: Blog do Grecos)